Necessidades humanas primordiais

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As pessoas precisam – assim que nascem e, sobretudo, ao longo da infância – ter supridas necessidades emocionais básicas para se desenvolver com saúde. São seus cuidadores quem têm a incumbência de atendê-las nesta fase.

O primeiro conjunto de necessidades engloba a dimensão da aceitação e amor incondicionais, segurança, respeito, proteção, empatia, estabilidade e sensação de pertencimento. Precisa haver conexão e disponibilidade afetiva.

A Teoria do Apego, oriunda dos trabalhos de Bowlby e Ainsworth, dá base para a compreensão disso. De acordo com os seus preceitos, ter um apego, uma conexão emocional segura, é uma necessidade fundamental do ser humano. E dependendo da forma como a mãe (ou seu substituto) responde às necessidades do bebê, ele irá desenvolver distintas maneiras de relacionar-se com ela e futuramente, consigo mesmo e com outras pessoas.

Dito de outra forma, cuidadores que respondem às necessidades do bebê/criança, afetiva e consistentemente, vão ensinar-lhe que suas necessidades são importantes e que os relacionamentos podem ser seguros e estáveis. Por outro lado, caso o cuidador não seja responsivo ao bebê/criança (por exemplo, quando o coloca em situações de sofrimento e maus-tratos, ao invés de abastecê-lo de carinho e segurança; quando não é o porto seguro ansiado por ele), ensina que suas necessidades não são importantes e que não se pode confiar nos outros, nem hoje e nem no futuro. Isso chega a impactar o autoconceito em pleno desenvolvimento. Se não recebo amor e o cuidado que preciso, será que é porque não mereço?

Dessa forma, o modelo de apego e a confiança no mundo nascem dessas primeiras relações. O caminho do amor é trilhado mediante retroalimentação: os pais amam e são responsivos a seus filhos, e estes poderão amar-se e amar o mundo que os envolve. Isso mostra a importância das primeiras interações para toda a vida (Bowlby 2006; Parkes, 2009; Whiffen, 2012).

A segurança no início da vida é tão importante que, mesmo quando uma gravidez tenha transcorrido com estresse elevado, o vínculo adequado e responsivo entre a mãe/cuidador e o bebê, durante o primeiro ano de vida, pode possibilitar a que um hipocampo que ficou pequeno em função desse estresse gestacional, recupere o seu volume normal (Gerhardt, 2017). E mais, vivências positivas durante essa fase estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento do córtex pré-frontal, região do cérebro envolvida na regulação emocional (Gerhardt, 2017; Papalia & Feeldman, 2013).

Portanto, o desenvolvimento global de uma pessoa (e seu equilíbrio que é baseado nele) depende de como seus pais ou cuidadores foram receptivos e responsivos às manifestações e necessidades que ela expressou no alvorecer de seus dias, semanas e meses de vida.

REFERÊNCIAS

 

Ainsworth, M. D. S., & Bowlby, J. (1991). An Ethological Approach to Personality Development. American Psychologist, 46, 333-341. http://dx.doi.org/10.1037/0003-066X.46.4.333

Bowlby, J. (2006). Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes.

Gerhardt, S. (2017). Porque o amor é importante. Porto Alegre: ARTMED.

Miller, A. (1997). O Drama da Criança bem-dotada. São Paulo: Summus Editorial. 2ª. Ed. 1997.

Parkes, C. M. (2009). Amor e perda: as raízes do luto e suas complicações. São Paulo: Summus Editorial.

Whiffen, E. V. O que a teoria do apego pode oferecer aos terapeutas de casal e família. In: Johnson, S. M.; Whiffen, V. E. (2012). Os processos do apego na terapia de casal e família. São Paulo: Rocca.

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